Histórias da AnaCris
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
sábado, 4 de março de 2017
sábado, 20 de fevereiro de 2016
“O grande cansaço da existência talvez seja apenas, em suma, esse enorme esforço que fazemos para mantermos vinte anos, quarenta anos, mais, o bom senso, para não sermos simplesmente, profundamente nós mesmos, quer dizer, abjetos, atrozes, absurdos. Pesadelo ter que sempre apresentar como um pequeno ideal universal, super-homem de manhã à noite, o sub-homem claudicante que nos deram.”
Louis-Ferdinand Céline em “Viagem ao fim da Noite”
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
foto: Ana Cristina |
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
Poema de Natal
Vinicius de Moraes
foto: Ana Cristina
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
domingo, 4 de janeiro de 2015
Traduzir-se
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
foto: Ana Cristina |
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Eternidade
Eternidade
Vivo a eternidade no meu dia-a-dia
Imagine você a beleza do lindo lugar
Ouve só as lindas cantigas que soam por lá
Quem vive na esperança não perde por esperar
Ouve só as lindas cantigas que soam por lá
Quem vive na esperança não perde por esperar
Eu não te contei com palavras
Eu não saberia explicar
A imaginação ganhou asas
Segredo a se revelar
Eu não saberia explicar
A imaginação ganhou asas
Segredo a se revelar
Eu não te falei teoria
Eu quis viver pra mostrar
A minha maior alegria
Que eu possa te encontrar
No céu.
Eu quis viver pra mostrar
A minha maior alegria
Que eu possa te encontrar
No céu.
Autor: Crombie
foto: Ana Cristina |
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Mensagem
foto: Ana Cristina |
“Talvez
não percebas, entretanto, cada dia acrescentas algo de ti ao campo da vida.
As
áreas dos deveres que assumiste são as que deixam a tua marca,
obrigatoriamente, mas possuis distritos outros de trabalho e de tempo, s quais
o Senhor te permite agir livremente, de modo a impregná-los com os sinais de
tua passagem.
Examina
por ti mesmo as situações com que defrontas hora a hora. Por todos os flancos,
solicitações e exigências. Tarefas, compromissos, contatos, acontecimentos,
comentários, informações, boatos. Queiras ou não queiras, a tua parcela de
influênica conta na soma geral das decisões e realizações porque em
matéira de manifestação, até mesmo o teu silêncio e a tua não ação vale.
Não
falamos isso para que te ergas cada manhã em posição de alarme. Anotamos o
assunto para que as circunstâncias, sejam elas quais forem, nos encontrem de
alma aberta ao patrocínio e à expansão do bem.
Acostumemos
a servir e abençoar sem esforço tanto quanto nos apropriamos do ar, respirando
mecanicamente. Compreender por hábito e auxiliar os outros sem ideia de
sacrificio.
Apredemos
e ensinamos caridade para todas as necessidades humanas. Façamos dela o pão
espiritual da vida.
Acreditemos
ou não, tudo o que sentimos, pensamos, dizemos ou realizamos nos define a
contribuição diária no montante de força e possibilidades felizes ou menos
felizes da existência.
foto: Ana Cristina |
Meditemos
nisso, refitamos na parcela de influência e de ação que impomos à vida, na pessoa
dos semelhantes, porque tudo o que dermos a vida também nos trará.”
Autor desconhecido
quinta-feira, 17 de abril de 2014
No Caminho, com Maiakóvski
No Caminho, com Maiakóvski
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
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