terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

SALMO 102



foto: internet
1 Ó Senhor, ouve a minha oração, e chegue a ti o meu clamor.
2 Não escondas de mim o teu rosto no dia da minha angústia;
inclina para mim os teus ouvidos; no dia em que eu clamar, ouve-me depressa.
3 Pois os meus dias se desvanecem como fumaça, e os meus ossos ardem como um tição.
4 O meu coração está ferido e seco como a erva, pelo que até me esqueço de comer o meu pão.
5 Por causa do meu doloroso gemer, os meus ossos se apegam à minha carne.
6 Sou semelhante ao pelicano no deserto; cheguei a ser como a coruja das ruínas.
7 Vigio, e tornei-me como um passarinho solitário no telhado.
8 Os meus inimigos me afrontam todo o dia; os que contra mim s enfurecem, me amaldiçoam.
9 Pois tenho comido cinza como pão, e misturado com lágrimas a minha bebida,
10 por causa da tua indignação e da tua ira; pois tu me levantaste e me arrojaste de ti.
11 Os meus dias são como a sombra que declina, e eu, como a erva, me vou secando.
12 Mas tu, Senhor, estás entronizado para sempre, e o teu nome será lembrado por todas as gerações.
13 Tu te levantarás e terás piedade de Sião; pois é o tempo de te compadeceres dela, sim, o tempo determinado já chegou.
foto: internet
14 Porque os teus servos têm prazer nas pedras dela, e se compadecem do seu pó.
15 As nações, pois, temerão o nome do Senhor, e todos os reis da terra a tua glória,
16 quando o Senhor edificar a Sião, e na sua glória se manifestar,
17 atendendo à oração do desamparado, e não desprezando a sua súplica.
18 Escreva-se isto para a geração futura, para que um povo que está por vir louve ao Senhor.
19 Pois olhou do alto do seu santuário; dos céus olhou o Senhor para a terra,
20 para ouvir o gemido dos presos, para libertar os sentenciados à morte;
21 a fim de que seja anunciado em Sião o nome do Senhor, e o seu louvor em Jerusalém,
22 quando se congregarem os povos, e os reinos, para servirem ao Senhor.
23 Ele abateu a minha força no caminho; abreviou os meus dias.
24 Eu clamo: Deus meu, não me leves no meio dos meus dias, tu, cujos anos alcançam todas as gerações.
25 Desde a antigüidade fundaste a terra; e os céus são obra das tuas mãos.
26 Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles, como um vestido, envelhecerão; como roupa os mudarás, e ficarão mudados.
27 Mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão.
28 Os filhos dos teus servos habitarão seguros, e a sua descendência ficará firmada diante de ti.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Justo e necessário - Carlos Ramalhete

Carlos Ramalhete - Justo e necessário - Colunistas - Gazeta do Povo


A tradição judaico-cristã enfatiza, sabiamente, que é justo e necessário dar graças a todo momento. No judaísmo, há orações de ação de graças para cada coisa: para cada tipo de comida, para ver uma bela paisagem, uma linda mulher, um rei, ou mesmo ao receber uma má notícia. Em tudo há razão para gratidão.
O sentido deste bom hábito é algo perfeitamente conforme à natureza humana. Nós desenvolvemos na nossa prática cotidiana – como os psicólogos behavioristas já descreveram melhor que eu – uma maneira habitual de perceber o mundo. Quando nos forçamos a perceber o que há de bom no mundo, treinamo-nos para continuar percebendo. A alternativa única é um treinamento inconsciente para fechar os olhos ao que há de bom; quem a adota acaba se vendo de mau humor em um dia maravilhoso porque, em meio a tanta beleza, há um probleminha, uma expectativa não cumprida.
  • Saiba Mesmo as piores tragédias têm sempre nelas algo que pode e deve ser apreciado, uma beleza que pode nos surpreender se estivermos preparados para encontrá-la. Das cores que brilham e se dissolvem na água suja da sarjeta à intrincada forma das nuvens de chuva, da florzinha que nasce no cimento quebrado ao sorriso da mãe que fala com o filho na calçada enquanto estamos presos no trânsito, sempre há algo bom.
É fácil se perder no negativo, no mau, no feio, ao ponto de deixar que a percepção dessas coisas impeça a percepção do que é bom e também está presente. É fácil condenar e julgar (em geral nesta ordem) a partir de expectativas irreais. Não o fazer é que exige treinamento, exige atenção.
Isso ocorre porque a nossa tendência é à sobrevivência, a achar que somos a cereja do bolo, o centro do universo. Numa sociedade mais rica que qualquer outra da história, em que todos têm acesso ao básico para a perpetuação da existência (comida, abrigo, roupa) e onde até mesmo as dores podem ser mascaradas por analgésicos, contudo, o mecanismo psicológico que foi feito para nos avisar que o leão está entrando na caverna tende a entrar em ação para avisar que a música que está tocando não é a que escolheríamos.
Fica fácil se chatear por bobagem, porque as coisas realmente sérias – fome, guerra, peste – dificilmente nos atingem.
Vale a pena fazer um esforço consciente para evitar o mau hábito de resmungar; para isso, desenvolver uma atitude de busca da beleza e do bem em toda parte é um passo necessário. No princípio é difícil, mas aos poucos isso se torna mais fácil, mais arraigado. E nós nos tornamos pessoas mais felizes.